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Que tal ensinar velhice para combater o preconceito?

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Que tal ensinar velhice para combater o preconceito?

Jovens podem não ter ideia do que é envelhecer, mas tendem a projetar um futuro positivo para si mesmos Aproveitando que amanhã é o Dia Internacional da Pessoa Idosa, decidi perguntar a 15 jovens o que, na visão deles, é ser velho; e como se imaginam com 65 anos.

No grupo, as idades variaram entre 14 e 35 anos e, como era de se esperar, quanto mais novinhos, menos ideia tinham do que é o envelhecimento – essa etapa da existência parece tão distante que soa como ficção científica.

No entanto, quase todos tinham uma expectativa bastante positiva sobre o próprio futuro.

Se são otimistas em relação ao que está reservado para eles, acredito que podem aprender que a velhice dos outros pode ser cheia de significado.

Vou começar pelos caçulas de 14 anos: quatro amigos que estão acabando o Ensino Fundamental.

As frases sobre ser idoso se assemelham: “é ser fofo e poder xingar sem ser xingado de volta”; “é ter mais de 60 anos, cabelos brancos, pele enrugada, essas coisas”; “é ter uma idade avançada”.

Joana foi a única que se aventurou a fazer uma projeção: “se tudo der certo, aos 65 estarei saudável, com dinheiro, uma família maneira e muitos gatos”.

Os irmãos Pedro e Gabriel, respectivamente com 17 e 14 anos, mostram como uns poucos anos de diferença mudam a perspectiva.

O caçula acha que ser velho “é ficar o dia inteiro na cadeira, não sair para mais nada”.

Mas, ao se visualizar idoso, se vê “saudável, rico, com uma casa bem bonita e ajudando as pessoas”.

O primogênito já encara o envelhecimento como um estado de espírito: “se você se considera velho, perde a vontade de fazer as coisas.

Aos 65 anos, me imagino meio aposentado, só fazendo coisas de que realmente goste.

Sossegado, com uma família, talvez netos, mas bem atlético”.

Idosa abraça mulher jovem: os mais velhos podem ensinar o que é resistência e resiliência Brenda Geisse para Pixabay Julia tem 16 anos, está acabando o Ensino Médio, e afirma que não é a idade cronológica que define a velhice: “se a pessoa cuida da sua saúde física e mental e está sempre atualizando, além de aparentar ser mais jovem, também vai ter uma mente jovem.

Conheço pessoas com mais de 60 anos tão ativas que não considero que sejam velhas, enquanto há outras, com menos idade, que estão ultrapassadas.

Eu me vejo me exercitando muito, porque sei que é uma das coisas que me ajudam a manter a saúde física e mental.

Vou estar trabalhando em alguma área da medicina, mas também espero ter tempo para viajar”.

Bruna, estudante de cinema de 21 anos, disse que precisou de alguns dias para elaborar uma resposta: “me parece algo tão distante que nunca havia parado para pensar nisso de verdade, mas acho que ser velho é começar o fim da jornada da vida, como o final de um filme.

É o desfecho de toda a história que você viveu, e isso é igual para todos”.

Aos 65 anos, acha que será uma avó curtindo a família, mas cultivando outros interesses: “não quero uma velhice monótona, vou me dedicar a diversas atividades”.

Com 23 anos, Caio, que estuda sistemas de informação, associa envelhecimento a experiência: “a velhice chega para todos, depende de cada um encará-la de uma forma positiva ou negativa.

Para mim, ser velho é poder compartilhar com o mundo minhas histórias, tanto os momentos tristes quanto os felizes.

Assim como aprendo com os mais velhos, sei que aprenderei com os mais novos quando os papéis se inverterem.

Me imagino satisfeito com a vida que vivi, mas aberto a novas experiências, buscando sempre inovar no campo das ideias”.

Aos 25 anos, a engenheira Nara faz uma distinção entre quem é velho de idade e de cabeça: “a pessoa pode estar com idade avançada e ter limitações físicas que a impedem de fazer alguma coisa, já o velho de cabeça é quem fica parado no tempo, se negando a acompanhar as mudanças no mundo.

Quem disse que alguém de 65 anos não pode viajar pelo mundo e partir para novas aventuras? Eu me imagino sendo avó, aposentada, e com tempo para explorar o que ainda não tiver conseguido fazer.

Mas com muita energia!”.

Outro que se visualiza com netos é Henrique, psicólogo de 28 anos: “nunca tinha pensado sobre isso mas, fazendo esse exercício agora, me vejo relaxado, com a sensação de dever cumprido, fazendo churrasco e contando piadas para meus quatro netos.

Com uma vida confortável e a esperança de ter realizado o melhor trabalho possível para que meus filhos alcem voos independentes”.

Na sua opinião, ser idoso é sinônimo de superar obstáculos, “que não são poucos”, avalia.

E acrescenta: “a experiência adquirida é que vai garantir tranquilidade para aceitar que existem mais ‘ontens’ que ‘amanhãs’.

A aceitação da velhice pode ser um longo percurso, mas é a única saída.

Não envelhecer é uma opção muito pior!”.

Chegando ao time que bateu a marca de três décadas, Thaís, arquivista de 30 anos, critica o que chama de “representações sociais negativas atrelando o velho ao que é obsoleto e ultrapassado” e prefere usar uma lista de palavras para “tentar ilustrar a complexidade da pergunta”.

Vamos a elas: experiência, sabedoria, prudência, ressignificação do tempo.

Sua visão dos 65? “Me imagino celebrando as rugas no rosto e os cabelos brancos; as dores e delícias de estar envelhecendo, assim como preciso lidar com todos os ônus e bônus de cada fase da vida.

Me imagino uma mulher que valorizará muito estar com a família e que grande parte do retorno emocional que preencherá o meu coração virá dessas relações.

Me imagino realizando pequenas conquistas, dessas que parecem não ter espaço na vida agitada que possuo hoje”.

São duas as representantes de 31 anos: a engenheira Mariana e uma publicitária reservada que pediu para não ser identificada nem pelo primeiro nome.

A primeira é assertiva: “você continua sendo você mesmo, não se transforma num outro ser apenas por conta da idade.

Além disso, acho que a visão de quem é considerado velho mudou.

Antigamente, pessoas com 65 anos pareciam estar no fim da vida, enquanto hoje muitas ainda são membros ativos da sociedade.

É como me imagino e tenho o exemplo da minha mãe: é muito mais disciplinada que eu e faz academia todos os dias.

Também espero ter estabilidade financeira para aproveitar a vida”.

A publicitária avalia que não há uma “idade universal para a velhice, porque a genética e o estilo de vida são fatores que influenciam”.

No seu caso, se vê trabalhando e “participando ativamente das questões relacionadas à comunidade na qual estou inserida.

No cenário político em que estamos, acho que ainda não terei conseguido casa própria ou estabilidade financeira”, afirma, rindo.

Por fim, Caio, especialista em proteção de dados e o “decano” de 35 anos, descarta o peso negativo do envelhecimento: “acumulamos conhecimento e experiência.

Não creio que deva ser um número mágico que defina isso.

Eu me imagino repassando meu conhecimento de alguma forma, seja dando consultoria, aulas, ou produzindo conteúdo.

Se a mente não estiver mais tão apta, vou relaxar e cuidar de animais”.

Fiquei satisfeita porque os depoimentos mostram uma consciência sobre a longa jornada que temos pela frente.

Como enfatizei no meu livro, “Longevidade no cotidiano: a arte de envelhecer bem”, lançado nessa mesma época no ano passado, ninguém deveria cair na armadilha de achar que o assunto não lhe diz respeito porque parece estar distante.

E podemos contribuir ensinando um pouco da nossa velhice para esses jovens.


Publicada por: RBSYS

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